Todo rico tem problema de opinião. Seja a dele próprio
(difícil) ou a da grande mídia que ele segue. E todos tem fascinação por pedantismo
(um treco chatíssimo, típico de gente que é um verdadeiro porre e gosta de
esconder sua ignorância em palavras bonitinhas). Rico dá opinião na economia,
na política externa e no campeonato tailandês de bolinhos gourmet, mesmo sem
entender porra nenhuma sobre tais assuntos. E opinião comportamental, também.
Atualmente, eles dizem, como a desdenhar da evolução natural humana, tudo é uma
bosta. No meu tempo era bem melhor, com ditadura, repressão política, sexual,
enfim. O rico é o verdadeiro simbolismo do passado, o saudosista. Acontece que
o rico – normalmente - no passado só fez
merda, explorou trabalhadores, estragou a própria família que tanto alega amar
hoje em dia, dentre outros.
Como o sistema faz com que o pobre rico, com seu cérebro de
avestruz, pense que só porque conseguiu viajar para a Europa, todos os outros
seres humanos da face da Terra também conseguirão um dia, pra ele é dificílimo
compreender que existe miséria no mundo, afinal, no condomínio residencial “riviera
da puta que pariu”, gente diferenciada jamais entrará. O rico provavelmente se
sente muito indignado quando vê gente diferenciada no bairro vizinho, que já desce
um pouco a classe.
Normalmente, de dentro do seu blindado, ele reclama do
trânsito (que ignora por completo como surgiu), dizendo que hoje em dia
qualquer um pode ter carro. Uma pena, ele pensa. Deveria ser só para quem tem sangue
azul. Aliás, o rico tem essa mania odiosa de condenar coisas que ele mesmo
criou, só que colocando a culpa em outra camada da sociedade. Ele reclama por
exemplo, que gente de cabelo alisado é muito feio, mas não se incomoda nem um
pouco com o fato de essa cultura ser culpa única e exclusivamente da mídia que
ele financia, e que se apropriou do conceito de ‘beleza’, fazendo todo mundo
acreditar que o belo é o branco.
O rico quer ter a última palavra, quer ter razão. Razão
sobre a forma como ofende os outros, por exemplo, está super na moda. Rico
adora ofender e desrespeitar os outros, e depois dizer que apenas defende a “liberdade
de expressão”. É quase a representação da high society. Até porque, a PM não
vai matar menino branco, filho de rico, que mata casais homossexuais na rua.
Então, pra eles, está tudo ok. Outro dia assisti um programa de uma emissora
que gente rica adora, mas não lembro o nome, porque tive de ir vomitar antes de
conseguir ver. Era sobre gente rica, fazendo as coisas babacas que costuma
fazer, como por exemplo, dar festas bregas para mais de cinco mil convidados
que com certeza eles nem conhecem, com o único intuito de mostrar ao mundo que tem
dinheiro. Chega a ser engraçado, e como
roteirista de comédia, vou com certeza controlar minha ânsia para observar mais
vezes o mesmo programa. Assim, já sei de onde tirar inspiração.
Mas voltando à questão da opinião, vale lembrar que todo
rico fica muito irritado quando contestado. Coisa de gente mimada, até se
esquecem da tal educação rica e preciosa que lhes fora dada, e soltam alguns
palavrões bem cabulosos, que nem na quebrada a gente ouve. É que no fundo, no
fundo, por mais repulsa que o rico tenha disso, ele não conseguiu ainda
inventar um dispositivo iFuga, pra ver se consegue esquecer a mistura de
carbono e lixo que todo ser humano é. E dá-lhe terapia, enquanto isso.
Porque rico adora uma terapia. Traí minha mulher, vou fazer
terapia. Meu sócio me traiu, vou fazer terapia. Rico também adora a palavra
traição, deve remeter ao passado monárquico, quando existiam questões de honra,
valores. Aliás, está aí a terceira coisa que o rico também adora: honra e
valores. Apesar de não ter escrúpulos, falar sobre escrúpulos é sempre muito
legal para os financeiramente estáveis.
Rico gosta de contar
ao mundo sobre como subiu na vida, criou coisas, fez dinheiro. Tudo honestamente,
isso é: passando os amigos para trás, humilhando seus funcionários e deixando a
família em segundo plano. Mostra sua condição ridícula para todos que quiserem
ver.
O que me fascina é o interesse deles. Ou melhor, a babaquice
deles em acreditar em meritocracia. Não, isso não me fascina, acho que talvez
seja o dinheiro. Ah, não. Nada me fascina no mundo dos ricos. Simplesmente os
considero, a todos, um bando de imbecis, mesmo.
Mesmo sabendo que fizeram merda, eles querem justificar a
merda que fazem. Estupro, assassinato, exploração: mentalmente instável,
devemos nos resignar [rico adora ser mentalmente instável, eles nunca tem a
consciência limpa]. Politicamente incorreto,
ofensas gratuitas a movimentos sociais, generalização: é só humor, não
deve ser levado a sério [ricos acham que humor não tem função social, porque o
humor que conhecem é o do Danilo Gentili e do zorra total].
Como eles são transtornados. Babo de inveja.