quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O corno bobo, a jovem indecisa e o ladrão cupido.

- Então, você pode me esquecer, também. Se você não faz questão, você acaba de morrer para mim.

Ela ficou meio sem saber se queria mesmo argumentar. Talvez nem gostasse dele de verdade. E também, ele não atenderia outra chamada, era extremamente teimoso, não voltava atrás nunca. Decidiu deixar de lado. Se sentisse falta era por que gostava, caso contrário, fazer o quê?

Continuou andando. Até que, surgindo do nada, como sempre, um ladrão passa a mão em seu celular e antes mesmo que ela pudesse notar, ele já estava longe.

O ex-namorado, sozinho em casa, recebe uma ligação do celular da ex. Hesitou em atender, não resistiu.

- Alô...

- Seguinte, irmão, tô aqui com a sua namorada, fica bem quietinho e escuta: quero R$500,00 em dinheiro vivo, numa mala, no bando da praça em frente a loja de material de construção, e já sabe, malandro, tô de olho se pintar polícia, eu mato sua mina sem dó!

- Matar? Olha aqui, amigo, eu não sei porque você tá falando em matar essa mulher, porque pra mim... ela acaba de morrer. Essa menina não tem coração, cara!

O ladrão se assustou e por um momento ficou sem reação.

- Poxa, sério cara?

- Estou dizendo! Imagine você que eu estava super apaixonado por ela, juro mesmo, pensava dia e noite em casar, ter três filhos, a gente ia até ter uma casa na cidade dos meus pais, poxa... E aí, um dia... Ela simplesmente acordou... E decidiu que não queria mais o babacão aqui, me deu um belo pé na bunda, e agora vem com essas de querer voltar pra mim, vê se eu posso?

- Mas que absurdo, cara, que mulher desalmada!

- Pois é! E o pior! Eu gosto da desgraçada! Eu amo essa mulher!

- Ah, não, amigo, não fica assim, não, poxa cara, não vale a pena!

Começou a chorar.

O ladrão compadeceu:

- Cara, não chora, não precisa!

- Mata logo essa infeliz, pelo amor de Deus! Aaaaaaaaaaah!

De repente, teve uma ideia. Saiu procurando a menina, feito louco, enquanto tentava tranqüilizar o ex, que, ensandecido começava a cogitar o suicídio.

Bateu um desespero nele. No fundo, não gostava nem de ver sangue. Falava que ia matar todo mundo, mas nunca tinha colocado as mãos numa arma.
Era ali, naquela cidade, apenas um jovem de mãos habilidosas. Pensou rápido. Lembrou da roupa da moça, da fisionomia e tudo o mais. Achou. Saiu correndo atrás dela, sempre dizendo ao ex que aquilo não era necessário, que a vida continuava, puxou a mulher pelo braço, pediu a ele um minuto, explicou a história toda que ele ia se matar.

Bateu uma angústia no peito. Ela de repente saiu do juízo. Pensou por alguns segundos. Daí percebeu que realmente gostava dele. Daí pegou o telefone da mão do menino, mãos trêmulas, coração batendo a mil.

- AMOR! FALA COMIGO! PELO AMOR DE DEUS, NÃO FAÇA ISSO!

- Carolina?

- Sou eu, amor! Olha, eu disse coisas horríveis, eu sei, eu também fiz algumas, mas...

- Mas, o que, Carolina? Você tinha tudo de mim, eu era fiel, amoroso, sempre fui bom pra você e agora você começa com essas coisas, de terminar, voltar, tudo pra me fazer de corno bobo!

O ladrão, que a essa hora nem entendia mais nada, permanecia aflito. Simpatizou com o casal porque já tinha vivido algumas situações parecidas.

Ela continuava lá, tentando convencer o namorado, que não sabia se era namorado mesmo ou sabe-se lá o que. Estavam todos completamente confusos.

Era uma cena perfeita.

No final, como sempre acontecia com eles, acabaram voltando, e se houver um casamento um dia, o ladrão será o padrinho.