sábado, 21 de setembro de 2013

Acontece...

Foi um relacionamento que acabou-se, como este que se passa pela cabeça de quem já teve um relacionamento acabado neste exato momento, como o amor de Romeu e Julieta, em quem pôs fim a morte da carne, como o casamento entre a justiça e a sociedade, como tantos outros que o mundo, cansado de assistir, assistiu. Teve seu início, meio e fim, sendo este último gerado por um pedido de casamento negado devido à falta de estruturas psicológicas. Não importa, ela não queria, era cedo demais, não havia de dar certo. Seria melhor acabar.
Quando acabou, porém, da maneira curiosa que acontece com quem não queria, ela arrependeu-se. Arrependeu-se amargamente, porque, veja bem, ele era um rapaz tão bonzinho, não é mesmo? No entanto, já era tarde. Por orgulho ou sensatez, manteve-se firme na decisão e não voltou atrás, até que veio por fim o convite do casamento que ela não quis com ele protagonizar.
Aí então foi que bateu forte o arrependimento de antes, sucedido de mais forte ainda orgulho ou talvez sensatez fingida. Deu-se o casamento por realizar-se às dezenove horas do dia tal, no tal lugar, que foi aquele para o qual ela seguiu, e nas escadas do qual ela chorou sentada durante toda a cerimônia, como criança sem brinquedo, já que não pode aguentar ver aquilo de frente. Chorou até não ter mais olhos para ver o que acontecia à sua volta. E é engraçado, porque o que acontecia à sua volta era exatamente o tipo de coisa que ela encararia como material para uma boa história de cinema, apesar de nunca ter sido retratada por ninguém.
Aconteceu que um rapaz, passando por aquela mesma calçada agora salpicada de lágrimas de arrependimento sem orgulho e qualquer traço de sensatez, viu o rosto – e as lágrimas, pois era impossível ver um e não o outro – e dele gostou, e portanto foi verificar o que o afligia.
Por fragilidade causada pelas circunstâncias, esqueceu de vez o orgulho e a sensatez que a indignidade e o arrependimento daquele momento haviam largado na calçada, e contou a ele o ocorrido. A princípio, ele duvidou da veracidade dos fatos, sorrindo. Mais tarde, a convidou para tomar uma cerveja, o que com certeza mudou toda a situação da água para o vinho.

Duas horas depois, o choro foi alcoolizado e obrigado a partir, dando espaço para as risadas escandalosas que as substâncias alcoólicas tiram de dentro das pessoas. E lá estavam dois bêbados, dançando ritmos nordestinos em um boteco qualquer, porque o amor tem dessas bobagens, e porque o destino é ainda mais bobo. 

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Não Leve A Mal, Que Disso O Mundo Já Está Cheio

Pensando, chegou à conclusão que não se vive certo. Hora descobre-se que a dieta seguida há trinta anos é na verdade a causa daquele problema nos rins, hora que não houve episódio final para a Caverna do Dragão. A vida é mesmo uma grande mentira, ou melhor dizendo, uma inverdade. Mas na verdade, se a verdade nem existe, o problema deve estar em quem vive errado mesmo, ué.
Porque admitir que está errado ninguém quer, mas estar errado é sempre muito mais gostoso, muito mais fácil, muito mais confortável. E ai de quem tentar estar certo, porque aí é dono da razão, é o certinho, nojento, fresco. O chato que passa sermão. Mas afinal de contas, pra que é que se vive, se não pra endireitar as coisas que vieram erradas da fábrica? Por que raios é assim tão mais agradável continuar convivendo dia e noite com aquilo que é errado, se o que é errado prejudica? Só mesmo para ser aceito?
Ora, ser aceito. O homem é mesmo muito otário, veja bem: o último que tentou ser aceito e agradar sem demagogia, na honestidade, tomou logo uns pregos nas mãos, e foi habitar o reino dos céus, amém. E ainda persiste esse papo, pouco mais que dois mil anos depois, de ser aceito, de fazer bonito. Pro raio que o parta com a aceitação geral, minha gente, que patifaria é essa? Há muito já deu a hora de se tomar consciência, decência e tapa na cara de quem não quiser. Há muito já deu a hora de deixar de lado a facilidade, de acreditar na vida e no próprio potencial de raciocínio, que é coisa fina que nos foi dada.

Há muito já deu o tempo do homem passar a viver do jeito certo, de gostar do jeito certo. Não que seja necessária a perfeição, porque todo mundo está cansado de saber que de perfeição aqui, não há nada, mas pelo menos um pouquinho daquele grandioso bom senso, um pouquinho de noção. É quase certo que não há de fazer mal a ninguém, de coração. Aliás, é quase certo mesmo, que o dia em que o tal do homem passar a interessar-se pelo certo, será mais feliz. Sim, felicidade, aquela coisa que todo dia se procura, e muitas vezes se anuncia ao mundo sem ao menos saber do significado. 

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Evitando Pensamentos

Entra em casa, fecha a porta
Bolsa sobre a mesa, suspiros de cansaço
Olha a geladeira, pela janela, para o espaço
Nada, nada, é como uma mente morta.

Chinelos, e os pensamentos... Corta!
Geladeira novamente, mas aquele abraço
A distração foi involuntária, é um palhaço
Chega, chega, não pode, não importa.

Essa ansiedade de tamborilar os dedos
Esse antigo desapego, agora perturbado
É desimportante, é engano puro e ledo

Estruturas talvez abaladas, talvez medo
Mas falar em sentimento é falar equivocado
Quando sentimento verdadeiro é aquele no lêvedo.