Foi um
relacionamento que acabou-se, como este que se passa pela cabeça de quem já
teve um relacionamento acabado neste exato momento, como o amor de Romeu e
Julieta, em quem pôs fim a morte da carne, como o casamento entre a justiça e a
sociedade, como tantos outros que o mundo, cansado de assistir, assistiu. Teve
seu início, meio e fim, sendo este último gerado por um pedido de casamento
negado devido à falta de estruturas psicológicas. Não importa, ela não queria,
era cedo demais, não havia de dar certo. Seria melhor acabar.
Quando acabou,
porém, da maneira curiosa que acontece com quem não queria, ela arrependeu-se.
Arrependeu-se amargamente, porque, veja bem, ele era um rapaz tão bonzinho, não
é mesmo? No entanto, já era tarde. Por orgulho ou sensatez, manteve-se firme na
decisão e não voltou atrás, até que veio por fim o convite do casamento que ela
não quis com ele protagonizar.
Aí então foi que
bateu forte o arrependimento de antes, sucedido de mais forte ainda orgulho ou
talvez sensatez fingida. Deu-se o casamento por realizar-se às dezenove horas
do dia tal, no tal lugar, que foi aquele para o qual ela seguiu, e nas escadas
do qual ela chorou sentada durante toda a cerimônia, como criança sem
brinquedo, já que não pode aguentar ver aquilo de frente. Chorou até não ter
mais olhos para ver o que acontecia à sua volta. E é engraçado, porque o que
acontecia à sua volta era exatamente o tipo de coisa que ela encararia como
material para uma boa história de cinema, apesar de nunca ter sido retratada
por ninguém.
Aconteceu que um
rapaz, passando por aquela mesma calçada agora salpicada de lágrimas de
arrependimento sem orgulho e qualquer traço de sensatez, viu o rosto – e as
lágrimas, pois era impossível ver um e não o outro – e dele gostou, e portanto
foi verificar o que o afligia.
Por fragilidade
causada pelas circunstâncias, esqueceu de vez o orgulho e a sensatez que a
indignidade e o arrependimento daquele momento haviam largado na calçada, e
contou a ele o ocorrido. A princípio, ele duvidou da veracidade dos fatos,
sorrindo. Mais tarde, a convidou para tomar uma cerveja, o que com certeza
mudou toda a situação da água para o vinho.
Duas horas depois,
o choro foi alcoolizado e obrigado a partir, dando espaço para as risadas
escandalosas que as substâncias alcoólicas tiram de dentro das pessoas. E lá
estavam dois bêbados, dançando ritmos nordestinos em um boteco qualquer, porque
o amor tem dessas bobagens, e porque o destino é ainda mais bobo.