domingo, 29 de novembro de 2009

Manias São Dons

João era um sujeito comum, não fosse sua incontrolável mania, ou melhor, suas manias. Tinha uma mania pra tudo. Como aquelas, de não pisar nas rachaduras, ou nos buracos na calçada, agitar o leite no pote de achocolatado em pó quando este estava no fim, nunca comer biscoitos sem leite puro, ou até mesmo como dar cinco pulos antes de dormir. Também nunca deixava de jogar a toalha de baixo da cama antes de ir para o banho. João nem pensava em entrar em casa sem tirar os sapatos e colocar os chinelos, que estavam sempre prontos esperando-o à porta, e ao sair para o trabalho, nunca se esquecia de colocar os sapatos, e deixar os chinelos no mesmo lugar. João era mesmo um cara esquisito, trabalhava, e gastava seu dinheiro com coisas esquisitas, como sua coleção de livros de biologia do 2º grau, que comprava em sebos. Sempre tinha um livro de uma das matérias, porém, nunca sequer folheou algum. Talvez os tivesse comprado devido ao fato de sentir remorso, por ter estado em recuperação nessa mesma disciplina, nos três anos do colégio, porque sempre deixava os benditos livros de biologia de baixo da cama, pois tinha medo deles. Apenas mais uma, dentre as manias de João. Também colecionava revistas da década de 1950, e tinha todos os discos dos Beatles, os quais ouvia todas as noites, religiosamente às oito e meia. quando as pessoas lhe perguntavam como ele sentia-se a respeito de suas manias incontestávelmente malucas, ele dizia que manias eram o seu dom.
Se fosse verdade, podia-se dizer que João era o homem mais abençoado da terra, devido a sua grande variedade de manias: tinha mania de grandeza, de perseguição, de limpeza, perfeccionismo, enfim, manias de todas as sortes possuía João. Mas acontece, que existem coisas que não podemos explicar ao certo, coisas que só aquele órgão vital, localizado em nosso lado esquerdo do peito pode explicar. Aconteceu que, num belo dia, após uma bela noite, que fora precedida de um outro belo dia, João conheceu uma jovem quando atravessava a rua . É importante lembrar, que: João tinha uma mania de só atravessar a rua após olhar três vezes para cada lado, porem, ele as vezes se esquecia de olhar para a rua, muito preocupado em balançar a cabeça três vezes. A moça vinha em um fusca 1969, que um dia fora branco, e ao atropelar João, ficou desesperada, mas como ele já estava acostumado a esse tipo de acontecimento, não se abalou muito. Chamou a bela garota de curvas que poderiam ser notadas por todos para tomar um café, para que se acalmasse, e daí em diante, algo estranho aconteceu na vida de nosso herói. Ao entrar em casa aquela noite, João se esqueceu de tirar os sapatos, e depois de se deitar, notou que esquecera também de dar os cinco pulos, e de ouvir o álbum branco (que havia sido o disco escolhido para aquela noite). Os dias passavam, João fraquejava. Nunca mais tirara os sapatos, e, que incrível! agora ele fazia questão de pisar em todas as rachaduras, buracos, e quem diria, até em tampas de bueiro! João se desligava cada vez mais das manias, e seus sapatos nunca mais foram encontrados na porta, cessaram as manias, e João foi viver um grande amor ao lado da mulher, e dos gêmeos que vieram após dois anos do casamento. Ela odiava quando ele tinha recaídas. Eles se amam muito, apesar de ela quase ter uma síncope quando o vê colocando toalhas de baixo da cama...