domingo, 12 de abril de 2015

Juramento

Ao medo dos homens e suas escolhas
À brisa macia que agrada a face
À luz do dia e ao verde das folhas
Ao próprio amor e a todo o enlace

Ao sempre que nunca se alcança
Ao todo da vida e ao seu nenhum
À idade corrida que aos ossos avança
Aos irmãos de Jesus e filhos de Ogum

Ao concreto e às coisas criadas
Às cadeias morais dessa guerra
À realidade abstrata das indomadas
Às marcas da pele na luta pela terra

A tudo isso,
A nada disso,
Dedicada uma vida toda.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Autorretrato

A minha alma tem lacunas
Como a lei que nos governa
Por ela ando sobre as dunas
Entro e saio das cavernas

Minha alma é bicho solto!
Não se prende a amor de vida
Pode estar por um dia envolto;
No seguinte já é ser de partida

A infeliz chora, e mata, e morre
Ou canta, ou anima o mundo errante
No fim há só o tempo que escorre
Pelas mãos desse pobre ser infante

O astronauta

Quando criança,
queria ser astronauta
um dia, cresceu
e tornou-se o melhor
de todos os que o mundo podia ter
só era uma pena
não poder perceber isso
por estar ocupado demais
lavando o chão dos banheiros
de um shopping center.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Pela janela do ônibus

Na rua daquela igreja
há uma kombi incinerada
representando a decomposição
de tudo aquilo que (não) vive
nas ruas duras dessa cidade

Mais adiante, na mesma calçada
ciscando, condicionado
um grupo de ex-galos-de-rinha
só espera, da vida e do mundo
encontrar milho entre as folhas secas.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Mortes horríveis

Morro todo dia um pouco
De ódio, amor
Ou de saudades
Eu morro como morre quem é louco

Morro às vezes pela manhã
Ou mais a noite
Também sem regra
Eu morro à embriaguez da vida sã

Morro quando desce a tardinha
E caminha, sem ardor
O ser dessas amenidades
Opondo-se à guerra, a paz desalinha

Morro sem pressa ou sem coragem
Morro de culpa ou por açoite
E como todo a quem se alegra
Eu morro da febre que me causa tua friagem