quinta-feira, 19 de abril de 2012

Complexo, Não?

Estas histórias de amor são... histórias de amor. Por que de uma forma ou de outra são sempre iguais.
Existem aqueles que criaram as histórias de amor. Preferem aquelas tradicionais, do tipo:
"Um ser humano do gênero masculino. Um ser humano do gênero feminino. E um final feliz."
Mas, sempre tem um rebelde, um visionário arrogante qualquer, que vai lá contrariar, questionar as regras, e cria um novo tipo de história de amor. Algo que não seja assim tão fácil, porque afinal, somos "seres humanos", e podemos criar um mundo bem mais complicado do que isso. Surge a evolução das histórias de amor padrão. Transformam-se em algo que toma mais tempo: "Um homem e uma mulher, que se amam. O mundo é contra. O final tem tudo para ser horrível. Mas incrivelmente, fazem do amor um si algo acima da capacidade de compreensão humana. Assim é mais intrigante. Todos os que acreditavam na outra forma passam a acreditar nessa, e talvez a ideia de questionar antes proposta volta a tomar conta das pessoas. Novamente surge um rebelde que diz: "Um homem se apaixona por uma mulher, mas ela despreza seu amor. Ao invés de apenas desistir, o cretino tira a própria vida, por que afinal, "o amor é algo acima da capacidade de compreensão E entedimento humano." Foi o bastante? Um final que não é feliz? Sim, com certeza, todos emocionados!
"EI, EI, esperem! - Diz um deles. - Não pode ser assim!
E todos pensam: "Realmente, não pode."
E esses rebeldes, sempre causando problemas...
O rebelde diz que deve haver comicidade em algum lugar.
Mas algo acontece. A rebeldia, que antes vinha só de um agora toma proporções extremas. Há alguns que mudam os gêneros dos "personagens", há os que condenam essa prática e os rebeldes rebelam-se uns contra os outros.
E enfim, chegamos a nossa sociedade e  pouco importa saber o que é felicidade.

Das Reclamações Que Mudaram Vidas



Tomou coragem. Sabia se tratar de algo difícil, sabia que estava entrando em uma guerra. Sabia, acima de tudo, que aquilo levaria horas, como sempre, seria irritante, maçante, terrível. Mais uma vez, se preparou psicologicamente, contou até dez, respirou fundo e pegou o telefone. De qualquer maneira, não poderia ser um domingo pior. A vida já não estava tão boa. Discou. Sentiu aquele arrepio, e aí a música começou. Abriu um pacote de batatas, uma garrafa de refrigerante, jogou-se pesadamente no sofá da sala. A música ainda não irritava. Ainda. No fundo, todos sabem que tudo é uma questão de tempo até que a música soe como provocação aos ouvidos. Sabia disso. Não se importou. Continuou comendo batatas e bebendo o refrigerante, e assim permaneceu nos primeiros quarenta minutos. Para seu espanto, ainda não começara a ficar irritada. Tudo bem. Tudo está sob controle. Mais batatas. Talvez, alguns chocolates. Quando, de repente, de maneira tão inesperada que não tinha palavras para dizer, alguém atendeu do outro lado da linha. Segue o diálogo mantido:
- Rafael, boa tarde, com quem falo?
- Aaah... Juliana, meu nome é Juliana.
- Pois não senhora, em que posso ajudar?
- Eu comprei um aparelho há alguns dias e do nada, ele parou de funcionar, e eu nunca consegui contatar a assistência técnica.- Sim... Senhora.

- E... Então?
- É só isso, senhora?
- Como assim só isso? Você acha pouco a assistência técnica não detectar o problema? O que mais tinha que acontecer pra você?
- Não, senhora, de maneira nenhuma, eu só...
- Ai, pare de me chamar de senhora que isso me irrita, por favor.
- Sim, e ... Desculpe, é... Juliana. Desculpe. É que esse é o modo como tratamos nossos clientes. Desculpe.
- Ah, claro, de maneira muito respeitosa. Me deixam esperando 40 minutos na linha, desligam na minha cara, e ainda querem demonstrar respeito, como não percebi antes! Lamento em lhe informar, Rafael, mas o seu sistema é um tanto contraditório. Ah, tudo bem, vamos com calma. Desculpe, eu me irritei.
- Tudo bem, Juliana.
- Ah, desculpe, eu não queria ser grosseira, desculpe.
- Tudo bem, Juliana, estou acostumado, sem problemas.
- Pare de ser bonzinho! Eu fui mal-educada, seja mal-educado comigo também, vamos!
- O quê?
- Vamos, desconte sua raiva!
- Mas...
- Vamos, ande logo, diga tudo o que pensou!
- Er... Está certo.
- Grite, pode gritar, vai.
- SUA LOUCA! NEURÓTICA, PSICOPATA! SOCIOFÓBICA, MALUCA!
- Pronto?
- hum, não.
- Prossiga.
- DEMENTE, ESQUISITA! DOENTE, PROBLEMÁTICA, FOLGADA, GROSSA, MAL-EDUCADA!
- E agora?
- Mais um?
- A vontade.
- RETARDADA!
- Só?
- É, acho que sim... Me sinto melhor assim, obrigado.
- Ah, por nada.
- HAHAHAHAHA! Você é DOIDA! HAHAHAHAHAHAHA!
Ela riu junto. Riram por vinte minutos consecutivos. Riram mais. Continuaram até o chefe dele voltar. Colocou-a linha na espera e parou rápido para se recompor.
O chefe parou, olhou rapidamente o departamento todo e voltou a jogar paciência no computador. Rafael olhou em volta, não viu o chefe, voltou ao telefone:
- Desculpe, Juliana...
- Onde você estava? O que aconteceu? Por que você desligou?
- Meu chefe apareceu aqui, eu estava rindo muito e...
- Oras! Você não está trabalhando?
- Sim, mas...
- Seu chefe reclama se você trabalhar? É por isso que nenhum atendente de telemarketing trabalha nesse país? Ele briga com você se você atender o telefone? Mais que absurdo!
- Juliana, acalme-se! Eu estava rindo descontroladamente, ele estranharia. Não ofenda meu emprego, por favor.
- Oh, sim, eu generalizei, desculpe.
- Me diga agora, você é casada?
- O quê? Casada? Eu?
- Ótimo. Quer sair comigo hoje?
- Por que eu faria isso? Você nem me conhece, e se eu for na verdade um velho psicopata?
- Tenho o pressentimento de que não é.
- Pressentimento?
- Sim, tenho ótima intuição, nunca falhou.
- Você é gay?
- Acredito que não.
- Por que um homem que não é gay me chamaria pra sair? Eu sou irritante. Pelo menos foi isso que ouvi dos meus últimos 9 namorados.
- Acho que já pude perceber isso. Mas eu arrisco. 8 horas saio daqui. Café?
- Ainda não consegui me acostumar com a ideia de sair com alguém que nunca vi.
- Até que eu não sou feio, viu.
- É, eu também não. Onde?
Se encontraram. Daquele dia em diante, nunca mais deixaram de se encontrar. Brigavam, é claro, diariamente, principalmente durante aquele bendito sétimo ano, as crises, os vasos quebrados na parede, o stress, as crianças, o ciúmes, o tudo aquilo que se ajeitava depois, por vezes na cama, vezes num jantar ou vestido novo, num chocolate, ou até mesmo com batatas e refrigerante numa tarde chata de domingo (que ficava muito melhor com alguns abraços), mas o bendito aparelho, aquele que não foi para a assistência técnica, hoje deve estar por aí, na mão das crianças, ou até mesmo na boca do cachorrinho de estimação da família. Sabe como é, filhotes são terríveis.

terça-feira, 3 de abril de 2012

O Cansaço

Um belo dia, cansou-se de tudo o que era vivo. E do que não era vivo também. Cansou da vida que levava, do cara com quem dividia a cama, do emprego e da inflação, cansou de sentir o estômago quase explodindo toda vez que lhe atacava uma crise de gastrite nervosa, de ter que ficar sempre aguentando as mesmas ladainhas no salão de beleza, de gente oportunista e mal intencionada, de gente falsa e arrogante, de gente insolente e vazia, dentre outros tipos de gente que deixam a gente com os nervos a flor da pele. Simplesmente cansou, e sabia que aquilo era loucura; "como assim, cansar, mulher? Você agora decide o que vai acontecer a todo momento, como se eu fosse um brinquedinho seu?" Havia cansado desse tipo de conversa havia muito tempo. Foi lembrando-se daqueles velhos questionamentos da fase adolescente, que, pelo resto do mundo é visto como rebeldia, tudo aquilo parecia querer lhe dizer algo. Como pesadelos constantes que a gente tem e não faz a mínima ideia do significado. A comida perdia o tempero, do sexo sumia o prazer, das amigas já não tinha as conversas que outrora foram, em momentos decisivos, grandes saídas e soluções. Contudo, não entendia como havia se acostumado tão rápido; tornara-se uma pessoa acomodada em sua poltrona de gente rica, após tantos anos de estudo dedicados à algo que agora nem sabia mesmo se gostava de fazer. Pensou, algumas vezes, em suicídio, mas aquilo parecia tão óbvio que desistiu. Foi também algumas vezes à igreja, para ver se não era coisa de satan. Encontrou gente demais por lá e desistiu também. Começou a ficar preocupada, poderia ser algum tipo de sociofobia na meia idade, distúrbios cerebrais, transtorno obsessivo-compulsivo ou esquizofrenia. Procurou um psicólogo, um psicanalista, um psiquiatra, uma mãe de santo, uma cigana, um pajé e uma benzedeira. Achou todos uns babacas. Sentia um desejo maior que a própria alma de sair pelo mundo bradando como ele é óbvio e despejando aos quatro ventos a sua decepção com as pessoas que nele habitam, juntamente com as atitudes delas, sempre iguais, mesquinhas, pequenas. Aquilo não era normal para uma mulher que sempre fora tão sensata e equilibrada em suas ações. Ou será que sim? Começaram a surgir teorias sobre essa implicância. Nada muito concreto, mas talvez, assim, analisando com mais sensibilidade, o problema não fosse com ela. Talvez, só talvez, as pessoas do mundo é que fossem o caos. E eram. Parou então por algum tempo, simplesmente para observar o comportamento do ser humano, e descobriu coisas tão horríveis que não foi capaz de descrever. Mamãe nunca lhe ensinara aquilo. Talvez nem ela soubesse. Talvez ela, velhinha e tão boa, tão gentil e doce, nem suportaria viver nesse mundo. E talvez tenha ido embora justamente por sentir que não suportaria a corrupção do homem e sua degeneração. Mamãe era muito sábia, sim. Mas Deus teve piedade de sua pobre alma sofredora, assim como teria de todos os poucos bons que habitam este lugar tão miserável que é o nosso. Era tudo uma questão... De tempo, talvez?