quarta-feira, 19 de junho de 2013

Grandes Atos

O preço da passagem é um roubo
Isso não tá certo
Mãos para o alto três e vinte é um assalto
O gigante acordou
Chupa governo
Viva o comunismo
Vamos tomar o poder
Polícia cão-de-guarda do governo
Não pensa
Só obedece
Exigimos reajuste salarial aos médicos
E frentistas
E a todos os meus amigos funcionários públicos um beijo gente
Legalize já porra
Regulamentação aos profissionais do sexo
Jovens unidos
Ei você aí você é um conformado
Vá se foder seu rebeldezinho de merda
Viva la revolución
Cotas para negros em concursos públicos
Abaixo à manipulação da mídia
Vote em mim não nele não vote em mim
Copa é o caralho

Oi meu nome é Daniele Molina e eu sou escritora (sem vírgulas).

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Especial Dia Dos Namorados - Conte Aqui Seus Problemas Amorosos

Data comemorativa presente em calendários de todas as partes do mundo, o dia dos namorados ganhou popularidade no Brasil por volta dos anos 40, em São Paulo, por consequência de uma campanha publicitária criada por João Dória para fazer crescerem as vendas no mês de junho, já que este não possuía um feriado comercial. A data no Brasil é atribuída ao dia 12, véspera do dia de Santo Antônio, conhecido por ser um santo casamenteiro. Fora daqui, o dito dia dos namorados é comemorado em 14 de fevereiro, por ser dia de São Valentim. Dadas todas estas informações de utilidade pública discutível e procedência duvidosa, é perfeitamente compreensível você pensar: "Tá. E daí?" Calma, que eu já chego lá. 
Estava eu pensando sobre o tal dia dos namorados, o qual orgulhosamente não comemoro (mas não por isso deprecio), e ao mesmo tempo, lembrando que deveria ontem coletar problemas alheios para o meu "semanal", quando surgiu a ideia no mínimo curiosa de fundir as duas coisas. Portanto, vamos logo de uma vez ao que de fato interessa: começando no metrô Brigadeiro, ainda nas escadas, ouvi uma voz comentando o conteúdo de minha plaquinha especialmente feita para o dia de ontem: "conte aqui seus problemas amorosos", e rindo em seguida. Corri atrás de uma moça um pouco confusa que disse ser um problema quando a pessoa com quem você resolve morar junto não colabora com a situação financeira. Deve ser. Já na rua, houveram situações até mais pesadas: "meu ex-marido é dependente químico, por isso eu resolvi terminar", ou alguma dificuldade com a própria sexualidade, como a não-aceitação dos pais. Daí me veio aos ouvidos a seguinte frase: "amo duas pessoas ao mesmo tempo, uma de um jeito e a outra de outro bem diferente, mas queria poder fundir as duas pessoas em uma só", e isso realmente me deixou pensativa. Não aquela coisa toda de perfeição, de pessoa certa e tudo o mais, mas sim a ideia de que, no dia dos namorados, como campanha publicitárias, as siderúrgicas poderiam lançar uma campanha de soldagem de pessoas, quem sabe resolvesse esse tipo de problema de "imperfeição"? Mas aí, pensei que talvez não tenha sido uma boa ideia, e portanto é melhor que eu continue bem longe das agências de publicidade. Ainda foi dito pela mesma pessoa; "é mais difícil ainda quando uma das pessoas é sua chefe, mais velha e cheia de responsabilidades e tal." Uma situação de indecisão, exatamente igual a de outra mulher alguns metros a frente dali: "gosto dos dois, mas descobri que ainda prefiro o ex." Uma boa época para voltar atrás, boa sorte, moça. 
Agora, se ele ou ela já estiver compromissado (a), cuidado: "tenho ciúmes da ex-namorada dele, porque estamos juntos há um ano e meio e ela continua ligando e dando em cima dele. Ela é simplesmente louca." Veja bem, você que está aí nessa situação difícil, ex-namorada louca: temos uma vasta lista de carentes e disponíveis logo neste doze de junho: "não tenho namorada", "meu amigo pega todas e não sobra nenhuma para mim", "há um ano que eu não faço sexo, não tomo uma garrafa de pinga e nem como um pão de queijo" (o que deve ser de fato uma tristeza específica), "ela já é passado, bola pra frente", e por fim, "faz tempo que não arrumo mulher", disse o Thales. E atenção, por favor, porque esta foi a sessão de 'homens a procura', mas a de mulheres também está aí bem firme e forte, para quem quiser ver:  "tô sem namorado", "fui traída e estou solteira", "tô solteira", "preciso encontrar um namorado", "ninguém me quer" (isso foi no mínimo triste), "acabei de pedir um menino em namoro e ele não aceitou" (aproveitem que ela deve estar vulnerável, vão, vão, grande chance), "tô divorciando, ele é uma pessoa maravilhosa mas não quero mais saber dele", e assim encerramos a sessão de  agência de relacionamentos. Vamos agora aos depoimentos mais detalhados do dia, a começar pelo meu amigo com quem já converso pela segunda vez: "as provas do Mackenzie são difíceis e não deixam a gente se ver. Ela estuda Direito." Depois, um problema não tão amoroso assim, mas com o qual me identifiquei um pouco, vindo de uma desenhista que como agora mesmo vi pela internet, possui uma página destinada a trabalhos artísticos bem conhecida no facebook (por sinal, ela fez a grande gentileza de soltar uma divulgação bacana deste adorável blog por lá, e a página em questão chama-se "ARTatte"): "meu problema é que eu sou desenhista e tenho de vestir uma camiseta de anúncio na rua." Um problema grande mesmo é que  por essas bandas, para ser pensador, é preciso ganhar dinheiro antes. Enfim, agora, as peripécias de uma moça que não sabe ao certo o que fazer: "conheci um cara no trabalho e começamos a conversar. Depois de um tempo percebi que toda vez que ele vinha me ver, tirava uma aliança do dedo, e resolvi procurar pelo nome no facebook. Vi que ele tinha namorada, mas ele negou e eu ignorei. até que depois de algum tempo acabei ficando com ele, mas o namoro continua, e agora eu realmente não sei o que fazer  a respeito. Faz algum tempo que a gente não se fala, e ele ainda namora."
E agora, para finalizar este dia tão... Amoroso, uma linda, comovente e triste história, de amor, paixão... E raiva, de João:
"Eu a conheci num bar, tinha 22 anos. Disse pra ela que a gente ia casar, que ela era a mulher da minha vida, mas ela disse que era casada. Falei que então ela largaria o marido, mas a gente se casaria. Daí então, ela foi ao banheiro e eu fiquei esperando até que ela saísse de lá. Quando isso aconteceu, eu a peguei no colo lhe dei um beijo. Sabe quando cê sente de verdade que é amor? Aí, depois de um tempo, a gente começou a ficar, e namoramos por dois anos, mas ela não largou do marido. Eu disse milhares de vezes pra ela se separar dele e ficar comigo, mas ela dizia que ele tinha emprego, estabilidade e eu era um menino. Por isso, virei fotógrafo e fui à Nova Iorque com mil dólares no bolso para ganhar dinheiro. Quando voltei, disse novamente à ela que deveria escolher entre ele ou eu, mas ela nunca me ouvia, e ficava sempre correndo atrás de mim. Eu dizia 'meu, não vem atrás de mim', mas ela vinha. Eu falava que não queria mais vê-la enquanto ela não resolvesse o que queria fazer com sua vida, e quando eu chegava ao aeroporto, quem estava me esperando? A diaba. Até que eu não aguentei mais e mandei ela ir se foder."
Beleza, uma boa noite aí, para todos vocês! Fui.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

O Homem De Bem

Aqui vive o homem de bem. Nesta caverna onde esconde-se juntamente com sua respeitosa dama e descansa, como pode, no curto período do tempo que lhe embranquece os cabelos a cada dia um pouco mais. Não pratica o mal pois assim lhe foi ensinado quando pequeno, que não o deveria fazer. Apesar de muitos outros exatamente como ele terem também recebido a mesma instrução, sabe que hoje são homens que deixam-se levar por uma fraqueza social comum entre homens, ao ponto de vista geral, de bem. Teme por sua dama durante as vinte e mais algumas horas do dia inventado pelos homens que sobre eles exercem poder, pois como é de conhecimento geral, a noite é escura, o dia, perigoso e a cidade, violenta. Uma cidade violenta onde nunca nada dorme (além dos que como o homem de bem e sua esposa (proletários), precisam fechar seus olhos diante da angústia do vazio da pouca vida que lhes resta após às cinco, das frustrações da meia idade e da repressão implícita e acobertada por largos sorrisos na TV que sofrem para que lhes seja possível alimentarem-se quatro vezes ao dia - sendo uma delas refeição feita num recipiente de plástico barato e em tempo cronometrado): nem o perigo representado pelos jovens que sofrem, nem a inconsequência dos que esbanjam.
O homem de bem imerge todos os meses num oceano sombrio e melancólico de cálculos, diante dos quais lhe some o humilde ordenado cujo ínfimo valor, quase simbólico, é ridiculamente enxugado a cada dia pelos panos quentes que acobertam a corrupção, seja do governo, seja dos tolos homens que o forma, e que por esse e por mais milhares de outros motivos de aparência pequena, tornam corrupção um produto cultural do país. Estes são os homens a princípio de bem. Os que igualmente ao homem de bem, tiveram caráter, tiveram lição, tiveram alguma, ainda que precária, escola e oportunidade - porque assim a almeja o governo: precária. Estes homens, contudo, não sabem quanto custam ao homem de bem, as facilidades obtidas por eles. Na roda de amigos, o homem de bem mantém-se calado, não possui lá muitas vitórias, pois a vida é cara e não lhe sobram muitas oportunidades. Já os outros, tem vantagens a contar, tem viagens a comentar, pois para eles moral é acessório, carteira perdida não tem dono e quem não rouba sinal de TV paga, é moralista. Mas o homem de bem sabe, e é justamente o saber o agravante de sua situação: a impotência angustiante de ver sobre seus semelhantes uma crosta suja de ignorância a qual tenta combater todos os dias teimosamente, sozinho, mas nunca mudo. Pois a corrupção é sádica ao ponto de anestesiar o corpo e fazer sofrer a mente da sociedade. A tortura portanto é tão mais cruel e visceral, que a sanidade do homem de bem é hoje verdadeiramente comprometida, a cada segundo em que respira e exerce sua função, com seriedade que por quem não sabe o que diz é depreciada e reduzida ao pó.
O homem de bem sofre portanto pela impotência supracitada e também pelas juventude e força que a sociedade deseja a todo custo dele tomar, usando-se do tempo e dos próprios indivíduos ao redor do homem de bem, pois sabemos que ao colocar o pé para fora de casa, jamais encontrará compaixão, quando o sistema tratou de extingui-la já há muito, nem mesmo solidariedade, já que os outros homens compreenderam errado o intuito da vida e também a fizeram desaparecer. Fora de sua pequena fortaleza não há nada para ele exceto giz, desrespeito e algo que o possa sustentar com muita simplicidade, e sabe bem disso. Não há nenhum motivo aparente para sorrir fora dela. 
É mesmo uma pequenina fortaleza que ele possui, um lugarzinho que levou muito tempo e esforço para que conseguisse conquistar. Uma casinha modesta e aconchegante, da qual sai todos os dias pela manhã e a qual retorna todos os dias ao cair da tarde, fadigado e com novas dores, marcado diretamente pela hostilidade do mundo. Fora dela a rua é fria, o céu é cinza. Mas lá dentro a vida lhe faz algum sentido, a dama lhe faz alguma companhia. A vaguidão do ser não lhe perturba mais o sono depois de tantos anos de luta, pois sabe que faz o que pode. Em seu pequeno reino existe um amor. Em seu pouco espaço, confiança e concordância. Lá ele sente a paz dos verdadeiros homens de bem, a paz que atravessa a angústia, que ultrapassa a linha das mágoas e dos medos que lhe castigam porta a fora. Ali ele descansa sim, como pode para recuperar-se e alimentar o ciclo vicioso da vida assalariada. Ali sim, vive - e não só existe - o homem de bem. Numa caverna onde esconde-se com sua respeitosa dama, dos malfeitos do mundo.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Conte Aqui Seus Problemas [5]

Olá. Antes de começar nossa sessão de lamentações semanal, gostaria de oferecer a quem contribui com esse pequeno trabalho de inutilidade pública um agradecimento especial, por motivos mais do que óbvios: sem vocês, não haveria o trabalho em questão. O outro agradecimento de hoje fica por conta de um chocolate que recebi de uma contribuinte muito simpática cujo problema principal deve-se a sobra de mês ao final do salário, que serve para pagar as contas da adolescência, ajudar em casa e que este mês, infelizmente, não servirá muito bem para o presente de dia dos namorados. Acontece, mas boa sorte, amiga. Aliás, falando em amiga, a amiga dela está com o mesmo problema, coitadas. Dias melhores virão. 
Trabalho é mesmo um negócio complicado, e vejamos aqui, uma grande parte das reclamações do povo é justamente culpa dele. Seja pela falta, seja pelo excesso. Arrumar trabalho, por exemplo, é um problema para um homem bem apressado que nem ao menos quis parar para dizer isso. Já quando se tem um trabalho, surgem vários tipos de chateações: "não consigo administrar meu tempo porque trabalho demais e quando chego em casa não tenho mais vontade de fazer nada por mim", "não consigo encontrar ninguém para ficar com meus dois filhos pequenos", "preciso ganhar mais dinheiro", "insatisfação salarial", "rotina, estresse". E quando o assunto é chefe? "Tenho dois chefes, eles são sócios, mas não se dão bem, e eu fico entre os dois, ou seja: estou no meio das brigas. Uma vez, tentei dizer ao chefe A que o chefe B estava insatisfeito e desmotivado, e ele me respondeu que isso não existia."
Tive a impressão há algum tempo que carros podem trazer muita preocupação e muito prejuízo. Hoje, chegou a confirmação; "meu carro foi apreendido na estrada e não tenho condições de pegá-lo de volta. Por enquanto, vou ter de andar de ônibus." "Eu preciso trocar meu carro, mas meu irmão não pode me ajudar a procurar um novo, e sabe, eu não sei comprar carro!" Aproveito para pedir um pouco de atenção a esta última frase, pede-se ajuda para comprar carro, boas almas, favor comentarem abaixo oferecendo dicas, conselhos etc. 
Agora, ainda no setor de anúncios, vamos a uma figura particularmente engraçada. Desejando ser identificado apenas por Robert, o adúltero, este homem reclama da rotina de seu relacionamento e diz estar não só apto, como também necessitado de uma amante, um relacionamento secreto; "quero ir pra balada, é assim que as coisas funcionam hoje em dia". E como se não bastasse a ousadia de suas palavras, Robert e seus amigos quiseram saber dos meus problemas. Como eu já disse outro dia, não foram os primeiros, e como também já disse outro dia, não me lembro muito bem dos meus problemas (com certeza, envolvem o tempo, o espaço, as pessoas e essas coisas estranhas). Robert então me perguntou se o anel que uso na mão direita é de compromisso, e eu disse que sim. Não é, mas achei que ele não se importaria de não saber disso. Seu amigo também reclamou da falta de tempo, porque não consegue ficar com seu filho, e aí então eu agradeci e fui procurar mais problemas. É importante lembrar que fazendo esse tipo de coisa, eu realmente dou muita risada. 
Samir sente-se insatisfeito com as pessoas ao redor, que não compreendem seu problema de saúde. Isso o deixa um pouco deprimido, e às vezes, torna-se um homem calado. A coisa de dar muita risada não se aplica a este caso, por exemplo. 
Agora, uma pausa para a máxima filosófica do dia: "Avon disfarça, mas já não sou uma mocinha como você, e não posso simplesmente dizer 'tchau, vou arrumar outro emprego'."
E prosseguimos, com o pobre vestibulando que está muito preocupado com a concorrência em Oceanografia, cuja nota de corte é 48, segundo ele, um tanto alto para seus esforços - e cá pra nós, alto para mim também -, já que ele não deixa de sair com amigos e divertir-se para ficar em casa estudando. E se entrar na faculdade é um problema, imagine depois de entrar: "trabalhos da faculdade são meu atual problema." 
E para encerrar a conta, vamos ao pai de família cuja ex-mulher pediu uma pensão absurda que excede as necessidades da criança de cinco anos. Segundo ele, a justiça hoje em dia nunca dá razão ao pai de família, e eu prefiro abster-me de qualquer comentário ou posicionamento.
Até a próxima!