quarta-feira, 24 de março de 2010

Era Uma Vez, Um Gato Xadrez... (nonsense dos tres porquinhos)

Era uma vez, uma menina boazinha, que tinha uma madrasta má, e duas irmãs piores...
-Não, narrador, não é esta história... A outra página!
-Ah, sim, claro, muito obrigado, meu filho... Estagiários...
(pigarreando): pois bem, amiguinhos... Hoje vou ler a vocês o romance de Jorge Amado, Mar Morto...
-NÃO! Senhor narrador, não este livro, é o outro, amarelo, ali atrás, veja...
-Ah, sim, aqui, este, achei...
(morrendo de vergonha, querendo matar seu estagiário, e pigarreando outra vez): Sim, pequenos, esta história começa no dia em que três porquinhos bem alienados, que achavam que saberiam viver sem a mamãe saíram de casa...
Os porquinhos fanfarrões foram embora, dizendo:
(porquinho nº 1, mais velho, e nem por isso mais maturo): não precisamos dela...
(porquinho nº2 teria que ser o do meio, mas hoje eu quero que ele seja o mais novo, então, será o mais novo, e mais idiota): com certeza, maninho, vamos nos virar muito bem!
(porquinho nº3, um porquinho besta e mimadinho, que batia no mais novo, e apanhava do mais velho): calem-se! Estou ouvindo um barulho estranho...
(nº2, querendo fazer graça): deve ser sua barriga, mano!
(nº1 quer impor respeito porque nasceu antes): isso porque a barriga dele é vazia como seu cérebro! Cale-se, porquinho mais novo e idiota!
Calaram-se todos por um minuto, a fim de entender do que se tratava o barulho, e logo, como eram todos uns dementes, chegaram à conclusão de que não era nada, e que o porquinho que ouviu um barulho (não me recordo agora qual deles falou isso) era um doido.
Os três porquinhos, exemplo perfeito de como ser bobo e perfeitamente idiota, decidiram enfim, construir uma casa, afinal, teriam que dormir em algum lugar, e não sabiam aonde. Pensando nisso, o porquinho nº3, que antes era o porquinho do meio, mas agora quero que seja o mais velho, chamou o do meio, que agora será o nº1, e ordenou-lhe que construísse um palácio para ele. O porquinho do meio, que também era bobo, disse que não faria palácio coisa nenhuma, e que, se ele quisesse uma lenha, ou um tijolinho, teria que pegar sozinho. Os porquinhos, depois de muito discutirem, decidiram que quem quisesse ter uma casa para dormir, teria que fazer uma. O porquinho mais bobo e mais novo foi o primeiro a começar sua casa e ao passar duas horas terminou uma casinha horrível que mais parecia uma barraca de acampamento, deitou-se e foi dormir. O porquinho mais velho, bem burro, buscou na selva umas folhas e cipós, e também alguns galhos, fez uma casa bem vagabunda e foi dormir. O terceiro porco, o do meio, esperou os dois irmãos dormirem, e deu no pé, a chamar o lobo doidão, seu amigo inescrupuloso de ginásio, parceiro de bagunças e guerras de bolinha de papel, para que desse um susto nos outros dois irmãos.
O lobo doidão estava doente, e então, não poderia ajudá-lo. Vendo-se sem casa, e sem farra, o porquinho besta resolveu ficar ali com o lobo doidão, fazendo-lhe companhia. Ao calar da noite, no silencio e na escuridão, os dois porquinhos, bobo (caçula) e idiota (mais velho) dormiam em suas casas horrorosas e mal construídas, enquanto o lobo mal e selvagem da silva, que fazia jus a seu nome, e devorava porquinhos bobos, idiotas e bestas, em apenas um instante, veio se aproximando, bem quietinho, bem astuto, das casinhas dos porquinhos. Está certo que, se o lobo mal e selvagem da silva devorasse os porquinhos, bobo e idiota, faria um imenso favor a humanidade, mas infelizmente, os porquinhos são os protagonistas, e sendo assim, não podem morrer no final, o que, aliás, até me faz desanimar de contar essa história do jeito certo. Já sei! Vou inventar o resto da história, para termos mais emoção! E que aquele estagiário metido e inútil não me interrompa, e nem me ensine a executar minha profissão, ouviram bem? Que não me interrompa!
Pois bem, paramos na parte em que o lobo mal e selvagem da silva ia chegando perto da casa dos porquinhos, e ia chegando perto das casinhas, e ia... Opa! E agora? Qual casinha ele ataca primeiro? Na história real, diziam que ele iria primeiro a casa do mais novo, mas se for a uma casa o outro vai ouvir o barulho dos ossos sendo quebrados, e dos gritinhos do porco bobo, e vai sair correndo, depois de ver a sombra do lobo mal. Melhor fazer de uma forma diferente: as casinhas dos porquinhos eram bem uma do lado da outra, e então, o lobo mal e selvagem da silva, que, a esta altura já nem é mais tão mal e selvagem assim, e pode muito bem ser chamado de salvador da pátria, poderia muito bem derrubar as duas casinhas com uma mão, e com a outra agarra os irmão que sairiam correndo com o barulho.
Brilhante! O lobo salvador da pátria derrubou as duas casinhas e os dois acordaram, saíram correndo, e foram agarrados pelo lobo salvador da pátria! Eles foram despedaçados, destroçados, desossados! Ah, que alívio! Eles eram dois insuportáveis mesmo, e... Ei! Espere aí, seu lobo! Não eram três porcos inúteis? Sim, três, veja: bobo, que era o mais novo, aqui jaz, viveu apenas doze anos de idade, o idiota, que era o mais velho e viveu dezoito, e o do meio, o porquinho Besta! Este o senhor não pegou, senhor seu lobo! Ele está lá na casa do senhor seu lobo doidão, que está doente!
(senhor lobo salvador da pátria de meia pataca, com cara de interrogação): bem, sendo assim, vou até lá, visitar meu compadre doidão, e pegar o porco besta!
E assim foi o senhor lobo salvador da pátria de meia pataca, a pegar o porco besta e cumprimentar seu amigo. Chegando lá, os dois dormiam. Foi bem fácil. Devorou o porco besta em dois segundos e, ouvindo os ruídos, o lobo doidão acordou:
(lobo doidão, com voz de gente gripada, e garganta inflamada): amigo mal e selvagem, quanto tempo! O senhor viu o porco besta por aí? Aquele infeliz disse-me que me faria companhia e fugiu! Ainda pego ele!
(lobo salvador da pátria por completo): não precisa amigo! Já o devorei agorinha há pouco! Ele e seus dois irmãos, imbecil e estúpido, ou outros nomes assim!
(lobo doidão): Oh! Que bom que o senhor acabou com aquela família de porcos falsos e invejosos! Aquele porco besta era mesmo muito mentiroso!
E assim, os lobos amigos tomaram um chá, e jogaram baralho, e ficaram conversando, e como diria uma antiga professora minha do primário, “acabou-se a história, e morreu vitória”, ou algo assim. Nem me lembro, eu odiava essa frase!
Moral: seria melhor ter lido Mar Morto!

segunda-feira, 22 de março de 2010

E São Mais Quantos?

E atenção, senhoras e senhores, respeitável público, mais uma semana passou, e mais uma chegou! E mais um milhão perdeu o ônibus, e um milhão nasceu, e um milhão morreu. e mais uma porção atrasou cinco minutos e o emprego perdeu. E mais um marido tentou matar um amante, mais não precisa de violência, camarada! E mais um pai implicou com um vestido curto, e olha isso, dá pra ver tudo! E mais um boêmio acordou às cinco... Para o meio dia... E mais um milhão que passou pelo pior dia de sua vida e descontou na parede, que raxou provando que era realmente o pior dia. E mais, e mais, e mais...
E foram muitos os que falaram "mamãe" pela primeira vez, e olha só essas bochechas, que coisa fofa! E muitos mais que viajaram a negócios, e voltaram, e nem ligaram, e antigamente você não fazia isso, amor, lembra? E mais um safado que trouxe um brinco e ficou tudo certo, e mais uma dieta que falhou, e uns quilinhos engordou...
Mais milhares de crianças foram esquecidas nas escolinhas, e choraram, e choraram, e esqueceram, e brincaram. E mais um ladrão assaltou uma moça indefesa, polícia para quem precisa, e há mais um skatista ferido no hospital, e mais uma gangue de pichadores apanhou, e mais um cidadão de bem leu indignado as notícias no jornal, e mais uma discussão entre cobrador e motorista a respeito de futebol, e eu, particularmente, acho que deviam trocar o centro-avante, e mais uma discussão sobre quem pega esse táxi, seu grosso, não lhe ensinaram como se trata uma dama? Desculpe o mal jeito aí, dona!
E agora, muita atenção, para mais uma repetição, de "mais uma":
e foi assim, que mais um gay se assumiu, e uma ovelha negra sumiu, e dale mais uma semana com chefe estressado! Ufa! Que vida, viu!