quinta-feira, 4 de setembro de 2014

As aventuras do Meninão Carente da classe média

O Meninão Carente da classe média brada aos quatro ventos, para quem quiser ouvir, “que mulher gosta mesmo é de dinheiro, joias e carros luxuosos; quem gosta de homem é viado!”, quando, curiosamente, seu glorioso emprego como estagiário no escritório do primo do tio-avô não lhe garante o dinheiro suficiente para sustentar as supostas mulheres que gostam de joias, carros luxuosos e roupas de grife. Nem tampouco, para sustentar seu próprio discurso. Entretanto, ele continua sendo homem: os ‘viados’ lhe serão garantidos naturalmente.
Ele é jovem, mas já pensa no futuro: sabe que “existem dois tipos de mulheres: as que servem para se casar, e as que só servem para diversão”. E claramente, nenhuma das duas o querem, pois como o próprio meninão afirma, com orgulho, elas gostam mesmo é de dinheiro, roupas de grife, carros luxuosos e joias, que ele não pode comprar, nem por diversão, nem para casar. Pelo visto, o meninão carente da classe média não serve, nem para diversão, nem para se casar. De qualquer jeito, lhe sobram os ‘viados’ que ele tanto considera desprezíveis, abominações, segundo o que o padre diz, na igreja que a mãe o obriga a ir aos domingos.
Ele gosta de acreditar que essas feministas da internet são muito incoerentes, pois tratam de uma tal de libertação sexual – que ele não faz a mínima ideia do que possa vir a significar –, mas para ele, feministas de verdade são só aquelas mulheres feias que morrem solteiras e das quais ninguém gosta, por isso elas não tem qualquer motivo para desejarem algo relacionado a sexo. Ele sim, tem muito a desejar: as morenas, loiras, ruivas e negras que vê nos sites de pornografia – E só lá, já que na vida real, os únicos que lhe dão alguma atenção seguem sendo os ‘viados’.
Ele se orgulha muito por ser heterossexual, muito mesmo. Afinal, na sua condição de meninão carente da classe média que não pode sustentar seus discursos e suas mulheres, a tentação de se arranjar logo com os ‘viados’ é tanta, mas tanta, que o esforço feito para se manter macho deve ser recompensado com algum pensamento positivo. Por isso, ele levanta a cabeça, agride física e moralmente os ‘viados’ que encontra por aí, e continua, sem sucesso, sua empreitada que consiste em  agarrar garotas na balada e depois dizer que elas são umas “mal-comidas” – ele adora esse termo – se não quiserem ter a honra e o privilégio de se divertirem com ele.
O meninão carente da classe média vive uma eterna luta de resistência, uma luta muito grande, maior que ele... Na academia, puxando ferro, para parecer mais atraente. Andou tomando umas vitaminas parecidas com o Mucilon que misturavam no seu leitinho quando era pequeno, mas parece que elas, assim como as mulheres e os discursos, são difíceis de serem sustentadas. Resolveu parar e voltar quando for efetivado na empresa do primo do tio-avô, que cá entre nós, é ‘viado’.

Aliás, o meninão sonha, noite e dia, com sua promoção, com o dia que vai parar o cursinho, com o momento em que a meritocracia sorrirá para ele, com várias coisas que vão torna-lo um verdadeiro macho alfa de sucesso. Mas às vezes, assim, de mansinho, bate um sentimento de tristeza (juntamente com uma vontade de conhecer um ‘viado’). É que na verdade, o meninão carente da classe média, segundo seus próprios ideais, fracassou na vida.

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