sexta-feira, 21 de maio de 2010

Crianças Preconceituosas...

Vocês são sempre assim. Sempre me culpando, sempre me julgando, no entanto nunca param um segundo sequer para me escutar. Nunca me entenderam. Nunca quiseram saber o que se passa do outro lado do armário, debaixo da cama, atrás da porta, e os meus sentimentos? Minha versão das histórias ninguém quer ouvir, e isso por quê? Simplesmente porque eu não tenho bochechinhas gordinhas, não faço xixi na cama, não troco R pelo L não assisto backyardigans e não faço desenhos coloridos para pendurar na geladeira. Não existe dialogo quando se toca em meu nome: todo mundo já vai criticando, falando cobras e lagartos a meu respeito. Muitas vezes, inclusive, seus pais, querendo sossego, falam em mim como se eu fosse uma ameaça a humanidade, um terrível e perigoso monstro. Pequenos, peço a vocês um pouco de compreensão! Entendam, amiguinhos; ser um monstro famoso não é fácil: toda noite é por minha causa que você vai dormir com seus pais, e me deixa sozinho no quarto, debaixo da cama, sem nenhum cobertor e travesseiro fofinho. Desde que você se entende por criança, e como toda criança que se preze, você chora, esperneia, de vez em quando até faz xixi no pijaminha listrado que a vovó deu no natal quando falam em bicho papão, homem do saco (que mais tarde você entenderá por seqüestrador e não por monstro), Chico – picadinho (esquartejador) ou qualquer outro Mané que meta medo em pimpolhinhos da mamãe e bebês – Johnson. Agora pare de olhar para o Barney e preste atenção, por favor! Eu não sou mal! Não tanto quanto pareço... pelo menos um dia, você verá, que aquele seu tio fanfarrão é pior do que eu, por exemplo: eu não ultrapasso faróis vermelhos, não falo ao celular enquanto dirijo, já seus pais... nunca em minha vida eu poderia machucar você, posto que sou fruto da sua própria imaginação, em compensação seus coleguinhas do colégio te mordem todos os dias, e você não tem medo deles, do contrário, não trocaria figurinhas com os mesmos. Eu nunca tive um rosto de verdade, pois nos seus sonhos sou de um jeito, e nos das outras crianças, sou diferente. Eu nunca tive um all star azul de velcro, uma colher colorida ou uma canequinha de plástico só meus. Ninguém passa geléia na minha torrada porque eu sou um monstro feio e ninguém gosta de mim. Quando eu choro, como agora, ninguém me dá o que eu quero, e nem canta musiquinhas para dormir. Nunca tive um Max steel e um hot wheels. Imagine você, o que me aconteceria se eu quisesse um paninho ou um ursinho para dormir. Minha vida é ficar atrás da porta, esperando o beijinho de boa noite que você recebe e eu não, e quando as luzes se apagam, eu tento conversar com você, mas você não me dá nenhuma chance, sai correndo assustado e vai tirar a paz e o sono da mamãe. Mas não é bem assim: eu não queria assustar. Eu não queria ser mau. Eu tenho sentimentos. Você que é preconceituoso. Vai me ignorar, né?! Tá bom! Nem queria mesmo!

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