sábado, 11 de julho de 2015

Sexo, Violência... E tudo isso aí que você pensou, mesmo

O mundo natural evolui. Do caos e das cinzas, projetam-se formas, e das formas projetadas, surgem projetos pensados. E no movimento contínuo de ida... E vinda... A natureza se expande e gera. Quase da mesma forma, todavia de maneira um tanto menos poética e mais patética, o mundo social também evolui. Isto porque de natural a social, os mundos mudam drasticamente, já que suas diferenças vivem a linha tênue entre natural e humano.
Por exemplo, o natural simplesmente acontece. Exatamente assim, sem grandes mistérios. Enquanto o humano, ali parado no balcão do bar, aguarda um líquido que o torne menos teórico, tendo a mesmíssima finalidade do natural, que no entanto, já aconteceu e agora está deitado com as mãos atrás da cabeça, bastante relaxado.  No maravilhoso mundo natural, tudo é mais fácil. E, embora auto-proclamem-se racionais os seres humanos, seu tedioso mundo não tem absolutamente nada tão racional assim. Todos os seus grandes assuntos são muito complexos para os pequenos, todos os seus assuntos menos complexos são muito infantis para os grandes. E assim, flutuam perdidos sobre um mar de angústias profundas, no qual ninguém tem de fato o mínimo interesse e coragem necessários para mergulhar de cabeça.
Um fato verdadeiramente intrigante sobre o mundo social e suas contradições racionais-atrapalhadinhas, por outro lado, está no motivo pelo qual, nas mais diversas sociedades, difundiu-se através dos séculos a negação do sexo e o espanto que ele incompreensivelmente causa, ao mesmo tempo que a violência e a intolerância caminham tranquilamente impunes pelas ruas das grandes cidades (e das pequenas também, que fique bem claro). De alguma forma muito bizarra, está desde muito cedo estampado em letras coloridas e fofinhas, em todos os livros de contos infantis, que bater e apanhar são ações perfeitamente normais, contanto que não sejam praticadas em longas (e possivelmente prazerosas) sessões de sadomasoquismo. É um motivo religioso.
Não exatamente um motivo religioso específico, não, não. Trata-se de um motivo religioso humano. Um motivo religioso humano geral. Porque dentro da sua racionalidade fajuta, o humano ao balcão do bar necessita violentar-se da forma mais desesperada quando lhe surge o mínimo pensamento tranquilo. O homem social está terrivelmente fadado à sua não tranquilidade, ao ato de acordar no meio da madrugada, suando frio e ofegante, após mais um pesadelo sangrento. Ao passo que, ficar acordado, suando quente e mais ofegante ainda, envolto em afeto, é um ato de concórdia que não pode suportar, simplesmente. Apaixonou-se perdidamente pela violência, pela guerra e pelo conflito. Apaixonou-se pelas armas de fogo. O fogo natural já não lhe parece tão interessante, e seu tesão reside agora na tensão, quando anda por uma rua deserta e escura de noite, e teme os mais variados tipos de perturbação da paz que ele odeia.

O mundo social está perturbado. Ou talvez ele tenha sempre sido perturbado. E gosta tanto disso, que prefere educar as crianças para a agressividade a simplesmente ensiná-las a aceitarem o mínimo realmente natural de suas composições (no que, por sinal, consistem as diferenças básicas de cada indivíduo, dentro dos limites da espécie já modificada pela evolução). A aceitação e o bom senso, ao que tudo indica, não fazem parte do plano de ensino no mundo social, que tanto se vangloriava por tê-los como vantagem sobre o natural. 
O natural? Bem, este dorme agora, placidamente (e de conchinhas), sem medo algum de não parecer “natural” aos olhos dos outros.  

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