terça-feira, 14 de julho de 2015

O fabuloso mundo das pessoas que enxergam mal

O mundo é um lugar cheio de pessoas divididas em dois grupos distintos, no que diz respeito a uma boa visão; existem pessoas que enxergam bem, e existem pessoas que não.  Houve um tempo em que, detectando esta ligeira diferença, as pessoas foram classificadas de acordo com seus grupos. Infelizmente,  para os membros do segundo grupo, a vida nem sempre foi fácil: as placas de trânsito, as letras miúdas, as luzes acesas sem necessidade, dentre tantos outros adventos terrivelmente cruéis tem feito, desde sempre, da vida dos que vieram ao mundo com alguma sorte de problema de visão um verdadeiro caos.
Todavia, como nada pode ser de todo ruim, devemos for fim assumir certas vantagens em ser um genuíno membro do fabuloso mundo das pessoas que enxergam mal. Se na escola, algumas crianças sofrem para adaptarem-se a seus pequenos óculos coloridos com cordinhas amarradas ao pescoço, e até recebem por vezes, apelidos não exatamente carinhosos por isso, mal sabem elas que a vida lhes reserva grandes e incríveis benefícios, não apenas na vida adulta, mas até mesmo durante todo o seu período infantil, fofinho e pimpolho.
Por exemplo, após assistir filmes com espíritos malignos e monstros feios: um dos pontos mais benéficos de não se enxergar com perfeição é que nenhuma pessoa que enxerga mal vê figuras estranhas sorrindo diabolicamente nas janelas e portas entreabertas por aí. Isso, é claro, porque é difícil para elas até mesmo enxergar as janelas e portas, e portanto, discernir a fisionomia de quem estiver lá fica, realmente, impossível.
Ainda sobre fisionomias, e aliás, partindo deste mesmíssimo princípio, as figuras que se vê, quando se vê mal, são ligeiramente distorcidas; ou seja, é muito mais fácil ver a beleza, sendo um pouquinho otimista, onde não há. Apenas este pequeno fato já garantiria ao mal enxergador, uma porção de vantagens em sua vida social, não apenas de ordem financeira (não é necessário gastar tanto com álcool até que as pessoas da festa fiquem muito bonitas, pois os fatores externos como elas estarem bem arrumadas já otimizam em duzentos por cento sua bela aparência), mas também, como retorno ao posicionamento estético que se tem para com as pessoas: as pessoas que não usam óculos sempre tendem a acreditar que você seja muito mais inteligente do que realmente é, simplesmente por viver atrás de duas grandes lentes lustrosas.
Portanto, caso você faça parte deste (não tão) seleto grupo de pessoas, saiba quais cartas você tem na manga. Não perca tempo (mas claro, não é só porque uma boa armação quadrada e tradicional sempre lhe garante confiança e respeito na hora de tratar sobre qualquer assunto, que automaticamente você só dirá coisas muito inteligentes. É preciso manter a discrição). Para além da socialização em ocasiões especiais, no entanto, ser parte da população que força os olhinhos para ler o letreiro dos ônibus pode trazer esta adorável forma de quebrar o gelo nas situações cotidianas, se for o caso.

 É comprovado cientificamente pelos renomados Observadores da Esquina que, frases simples como “meu deus, o que diabos está escrito ali?” ou  “Não consigo enxergar nem a cor desse ônibus, você poderia me dizer se é o número tal?” ativam rapidamente terminais de solidariedade no cérebro humano. Além disso, empregando o tom certo, podem soar cômicas. Daí, é só torcer para não ser aquele o seu ônibus,  nem o da pessoa com quem quiser bater um papo descontraído. Tomar como estimativa que é você quem enxerga mal pode trazer grandes alegrias. Basta saber usar suas oportunidades, e o mundo se abrirá lindamente, colorido e nítido, cheio de luzes e detalhes (que você nem vai conseguir enxergar direito, mas não importa), exatamente como duas lentes limpinhas. 

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