sexta-feira, 20 de março de 2015

Força, Nicola

A minha história com o Nicola começou ano passado, quando eu ainda trabalhava em uma escola. Na época, meu aparelho de celular pifou, e tive de comprar outro, exatamente pelo mesmo motivo que um peixe precisa de uma bicicleta, a partir do momento em que todos os peixes como ele convencionarem que peixes precisam de bicicletas para viver. Pois bem. Comprei. Troquei também a operadora e o número da linha, mas aí já foi por burrice, mesmo.
Desde então, minha vida mudou. E foi aí que o Nicola surgiu. Não sei dizer se para o bem ou para o mal, mas o que importa é que, mesmo nunca tendo conhecido, de fato, o Nicola - e é provável que nunca venha a conhecê-lo -, ele já faz parte de mim. Está sempre presente, é um cara por quem cultivo, senão um grande afeto, ao menos muita solidariedade.
O ocorrido, de forma mais objetiva, foi que logo alguns meses após adquirir a linha e aparelho atuais, o recebimento muito frequente (quase diário) de mensagens depreciando o crédito e o nome do Nicola vem atormentando minha existência. Dizem que ele tem dívidas, pendências absurdas há muito tempo (acho minimamente deselegante uma empresa que passa essa sorte de informações sobre seus clientes a terceiros, que nada tem com a suposta dívida alheia). Pedem, de forma nada discreta, que ele pague algo que, segundo as mensagens, ele deve a alguém.
A princípio, pensei tratar-se de uma daquelas pegadinhas muito divertidas que os presidiários mais espirituosos nos passam quando entediados pela ineficiência do sistema carcerário brasileiro, mas logo percebi, quando das mensagens escritas, passei a receber ligações com vozes femininas cansadas pela exploração da classe operária de telemarketing, que aquilo tudo era mais uma obra ardilosa de uma dessas grandes corporações, para constranger o pobre Nicola diante de mim, que nem sequer o conheço.
O sistema novamente mostra-se muito mais perverso e insidioso do que podemos acreditar que fosse. É terrível pensar que o Nicolinha seja assim gratuitamente difamado, sabe. Nem direito à defesa ele teve, coitado. Esta empresa a qual, por sinal sempre preservou seu próprio direito de imagem, me faz temer pela vida financeira de Nicola.
Hoje disseram-me por mensagem de texto, que seu processo transita em cartório, talvez muito em breve ele tenha de responder judicialmente por isso; espero sinceramente que ele possa livrar-se dessa terrível acusação. E por último, se não for pedir muito, espero também que parem de me ligar à procura do Nicola, porque eu juro: não conheço ninguém com esse nome, nem tenho seu contato real.

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