quarta-feira, 15 de maio de 2013

Conte Aqui Seus Problemas

Hoje, quarta-feira, 15 de maio de 2013, fui às ruas para ouvir problemas alheios. Ouvir, apenas, sem absolutamente nenhum outro intuito, senão o de tomar nota do maior número de problemas transeuntes possível. 
Evidentemente, essa atividade tomou algum tempo para ser compreendida à Avenida Paulista, às duas da tarde, mas o que posso dizer, da experiência em si, é que foi, sem dúvidas, algo maravilhoso. Divertido, prazeroso mesmo. Conversei com todo o tipo de gente, ouvi todo o tipo de problema, desde o mais relativa e aparentemente simples ao mais relativa e aparentemente complicado de se resolver. A nenhum deles ousei tentar arranjar solução, afinal, ao contrário do que dezenas de pessoas me perguntaram, minha empreitada não possui nenhum tipo de valor científico, e meus interesses não são psicológicos. Eu realmente só queria conhecer um pouco dos meus conterrâneos, ver mais de perto suas mais variadas realidades, saber da vida deles. Fui fotografada algumas vezes - o que é um desastre, pois eu estava horrível mesmo, mas não importa -, conversei em inglês com uma argentina e um americano, que reclamaram da dificuldade de seu relacionamento, por morarem em países diferentes e até mesmo improvisei meu - péssimo - espanhol, tentando aos trancos e barrancos, entender um boliviano que disse algo parecido com: "La vida es un problema" (Eu realmente não sei falar espanhol, mundo). Gracias, meu chapa.
Era engraçado de verdade ver a reação das pessoas ao me verem segurando esta plaquinha no meio da calçada, o processo era mais ou menos esse: primeiro, o cidadão está andando tranquilamente pela rua, quando avista uma pessoa que carrega uma placa pendurada no pescoço, com os dizeres: "CONTE AQUI SEUS PROBLEMAS". Isso sem dúvidas chama atenção, mas ah, é a Avenida Paulista, essa é só mais uma daquelas pessoas que inventam moda por aqui. Lugar doido, meu Deus. Em segundo lugar, depois de ler o que a placa diz, algumas pessoas repetem em voz alta, e aí é que entram as reações mais engraçadas: a mais comum é aquela risada larga do brasileiro, seguida de um "Ah, se eu fosse te contar todos...!". Há também a turminha feliz, que "não tem problemas", e a outra parte que compartilha, na maior parte das vezes, rindo e achando o maior barato. Algumas contam os problemas do amigo do lado, a maioria diz que é falta de dinheiro, de sexo ou de amor, problemas com a equipe de trabalho e chefia, ou ainda "sair do escritório na zona leste, chegar ao fórum sem ter almoçado e dar de cara com o mesmo fechado". É de matar. 
Uma que eu achei fantástica, em particular, foi a do rapaz que disse viver um eterno "cachimblema". Para os leigos, segundo o Dicionário Moderno da Língua Popular: "Cachaça, Chifre e Problema". E quando dizemos "cachaça, não é pouca: o coitado bebe Balalaika, Natasha e Velho Barreiro todo dia. Ok, talvez essa parte seja brincadeira dele. Mas não pensem vocês, leitores, que só civis choraram suas pitangas: teve policial reclamando que não voltava pra casa há quinze dias, não tinha folga e férias, queridos, só a cada quatorze meses. Houve que reclamou de assalto, houve até mesmo gente que acabou de se assumir homossexual e só queria mesmo dividir isso com alguém. Achei super legal! Minha primeira vítima nas ruas foi a Lia, que disse que a ideia foi muito criativa e definiu seu problema como o vício de fumar. "Queria muito parar de fumar. fumo há quarenta anos, e às vezes as pessoas me olham como se eu fosse uma criminosa". Foi tanta história engraçada, que de fato, não caberia aqui detalhar todas. O rapaz que sofre bullying no call center, por ser heterossexual, um professor de artes em greve, que disse que a situação está difícil porque a diretora da escola boicota a mesma, um homem que se diz muito afobado e ansioso, e por isso seus colegas de trabalho não o compreendem. Apesar disso, ele quis deixar bem claro, não sofre de ejaculação precoce. Juro, ele disse isso. Sobre trabalho, uma moça que não quis ser identificada disse: "tenho medo de ser demitida desde o dia em que entrei na empresa". De fato, complicado. Também foi dito, sobre o mesmo assunto: "meu problema é meu gerente. Ele só pega no MEU pé". Perseguição, isso aí é crime. O Daniel, no meio de vários colegas de trabalho, foi sincero em suas colocações: "pego trem, tenho péssimos colegas de trabalho, estou cansado do cursinho e meu noivo mora longe demais."
Na ala dos problemas físicos, teve gente que descobriu hoje uma necessidade de voltar a fazer hemodiálise depois de 8 anos, e estava desapontada pelo governo obrigar alguém com uma desfunção tão delicada a trabalhar. Teve quem simplesmente encara uma dor de cabeça de mais de dois anos como rotina, e não se importa mais com ela. Também teve quem precisa fazer uma prótese, mas o hospital das clínicas está em reforma, já fica aí a informação, procurem um outro hospital. E por enquanto, ficam só esses problemas. 
De qualquer forma, esta foi uma experiência da qual não vou me esquecer, e com certeza, em breve, se tudo der certo, teremos mais. 

4 comentários:

  1. Eu realmente amei a sua ideia, Srta. Molina. Sempre gostei de seu "trabalho", desde suas poesias e com certeza vou acompanhar esta empreitada.

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    1. Obrigada, obrigada e obrigada, pessoa. É ótimo ter esses "feedbacks", cara :D
      espero ter sucesso na mesma, conto com você.

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  2. Moo que lindo isso, linda ideia parabéns e boa sorte com o projeto.

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  3. cara que demais. ótima ideia.

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