sábado, 22 de setembro de 2012

Sobre Felicidade e Poesia


Era apenas uma questão de ser feliz. Observava de minha particularidade, o mundo, e como ele buscava a felicidade. Todo mundo quer ser feliz. “eu não vou sofrer por amor, eu nasci para ser feliz”. Qual o que, a semana seguinte já seria regada a choro de moça virgem trocada por uma loira boa, daquelas que todo homem gosta. Eu pensava comigo, naquela influência mundana, no que me faria feliz. Menino sem jeito viria, em breve, a ser homem sem jeito também. Na falta de jeito, não encontrava nada para me fazer feliz. Ou melhor, encontrava sim; o tal do amor, ele parecia que fazia a gente feliz.
Mas é que às vezes o amor parece tão distante, tão banalizado. Mulher não sabe amar. Homem também não. Talvez eu é que não saiba, mesmo. Mas a questão não é o amor, e sim a felicidade.  Porque por mais que haja amor, pode não haver felicidade, e assim não pode, assim não dá.  Se não há felicidade nesse amor, melhor então que não haja mais amor. A tal da felicidade é o que importa, no fim. Finalmente, encontramos o que realmente importa. Ou talvez não. Pra mim essa felicidade não é bem assim, porque pra mim nunca nada é bem assim.
Isso de normas morais, estruturas psicológicas, nunca entendi. Por que ser feliz? Por que ter dinheiro? Por que viver com uma loira boa daquelas que todo homem gosta? Na verdade, corrijo-me: as morenas é que são boas pra se viver, as loiras são melhores por fora. Para se viver é melhor uma dessas simples, nada de muito sensual e extraordinário, que é pra não chamar muita atenção alheia, só dentro de casa. Por que afinal? Ser feliz é bom, é. Ser feliz não é possível quando se sabe demais, diziam. E não é mesmo, veja bem: a tal da morena, boa pra se viver, ela mesmo, parece bem simples, parece bem boazinha, mas quando se vira as costas, ela também arruma outro por fora.  Quem não sabe, vive bem. Quando se descobre é que a coisa desanda. A ignorância, linda ignorância, ela é que é o segredo da tal felicidade. Tá, tá, vá lá, bela felicidade essa. Mas ser feliz, ser feliz sem poesia: qual é a felicidade de ser feliz sem poesia? E qual é a poesia que é feliz? Onde está a poesia dessa felicidade impulsiva, sem limites? Esse é um oceano onde todo homem, toda loira, toda morena e toda moça virgem mergulham de olhos abertos em busca obstinada pela maldita felicidade. Ora, quem mergulha de olhos abertos no sal desse mar amado que não é de Jorge, morto de poesia, tem logo os olhos feridos, ardem como o cão.
Poesia é melhor que felicidade. Poesia não é feita de felicidade. Poesia, poesia nasce de morte, poesia nasce de falta de entendimento, ou de entendimento demais, poesia. Satisfação poética, talvez se assemelhe a felicidade, aquela sensação de incomparável prazer que se sente ao terminar o último verso, ao deixar um ponto de interrogação ao invés de ponto final, então, é coisa linda de se fazer. Não muito disso é o que se salva quando se tem felicidade. O amor talvez resolva estes problemas, daquilo que o homem enganado chama “falta de inspiração”.
Esse amor, necessidade minha de sofrer para expressar a poesia da alma. Esse amor, necessidade de suprir felicidade, em necessidade de se ter poesia, viver de poesia, viver de nada, viver de abstração, de filosofia vã, de tudo. Viver do vazio de amor, viver do que se faz quando se tem um vazio de amor, viver de ausência, falta da vida propriamente dita, e viver até mesmo da morte de espírito alheia. Vou mesmo é me esquecer da loira, da morena, esquecer de ser homem, esquecer das eventuais falhas, que agora já não mais exercem o papel de evento, mas tornaram-se característica firme e concreta em mim, homem, menino, triste. Triste de amor, triste de ausência, triste de felicidade, triste por qualquer outro motivo, mas triste sempre por poesia, viva ou morta, triste ou não, mas poesia. E poesia feita de falta de felicidade. E que fique bem claro: não me importa a felicidade do mundo, ou o que ele procura. Eu me importo é com poesia, eu busco é poesia. Felicidade é obsoleta.
 

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