sábado, 14 de agosto de 2010

Drama Paternal

E então, ao fim de mais uma interminável noite de sexta-feira, o pai, vermelho de raiva, briga com a esposa, que lia tranquilamente um daqueles romances baratos, melosos a ponto de estrebuchar diabético:
-Não sei como você consegue ficar aí, desse jeito, enquanto sua filha pode estar até sendo vítima de assédio sexual.
-E eu juro que não entendo como é que você consegue fazer tanto drama por causa de um aniversário. E não exagere que o Júlio é um rapaz muito decente. Não é nada disso que você está pensando, aliás, é um rapaz muito educado, inteligente, sensível...
-E VAGABUNDO! É isso que aquele moleque é! Ai, se eu descobrir que ele andou ultrapassando os limites... Juro que mato aquele pirralho!
-Deixe de dizer besteiras, homem, que o menino é tão bonzinho!
-Bonzinho, é? Eu é que sei. Já tive a idade dele, sei muito bem o que é que ele quer. Mas com o meu bebezinho ele não vai mexer!
-Ah, Aroldo! Pare com essa conversa, que você ultimamente anda se preocupando muito com essas besteirinhas aí. Desse jeito lhe ataca a gastrite e você cai de cama de novo, mais uma vez! Agora venha dormir, que é só uma festa de aniversário. Aniversário do seu genro. Seu genro, namorado da sua filha de 25 anos, que de bebezinho e de seu não tem absolutamente NADA, quer você queira, quer não queira, e ponto final. Agora esqueça isso e venha dormir. Vamos, ande!
-Está bem, está bem, eu já vou. Mas eu ainda acho que esse namorinho besta está tomando proporções inadmissíveis, ouviu bem? I-NAD-MIS-SÍ-VEIS!
-Ai, ai, está bem, homem, chega!
Proporções realmente inadmissíveis. Tanto que duas semanas depois anunciaram o casamento. Pobre do Aroldo desmaiou ao ouvir a notícia. Atacou-lhe a gastrite. Foi meio contra, dizia que ele era um fedelho inconseqüente e irresponsável, que eles não tinham maturidade suficiente, que era só uma paixãozinha adolescente, porque afinal, você ainda é adolescente, minha filha, você sabe, não é? No entanto, acabou dando uma trégua no final, e hoje, inclusive, é um ótimo avô, super carinhoso, apesar de continuar firme e forte na idéia de que o Júlio, engenheiro pra lá de bem sucedido, não passa de um menino bobão.

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