quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Mão

A mão veio se achegado, ainda distraída mesmo, sem saber para onde se rastejava. A outra estava ali, sem tristeza, nem felicidade; apenas estava.
A mão chegou perto, e ainda que algo a puxasse, só continuava pois ainda não tinha aonde ir. Não percebia, apenas vivia aquela busca por nada. Tocaram-se.
Mas foi sem querer, do nada, como podia aquilo? Um simples toque. Tudo aquilo.
O toque foi involuntário, mas mais involuntário foi o que o seguiu. Uma sequência, uma frequência, só de toques, entre aquelas duas mãos, agora um tanto úmidas de um suor repentinamente frio; muito ávidas daquelas toques instintivamente quentes.
Passou a primeira mão a envolver a segunda com seu gesto um tanto -muito- evasivo. Ela cedeu, ainda que fingindo não perceber. As respostas eram impulsos, os impulsos tomaram consciência. Uma consciência meio escondida, uma distração. Os olhos seguiram a mão. Encontraram-se. Um impacto, quase vacilaram, os olhos, subitamente começando a pensar em olhar para outro lado, mas a curiosidade era maior do que a própria hesitação involuntária. Mantiveram um mesmo olhar, curioso, impreciso, um tanto vacilante, mas sempre ali, no outro. Tentaram entender. Foi impossível.
Que era aquilo? Quem era aquela? Só pôde continuar ali, olhando para ela, com as mesmas mãos, agora ligeiramente trêmulas. As mãos estavam bem ali, como sempre estiveram, talvez esperando, talvez apenas estando, mas não importava, nada importava além daquilo, além das mãos. Envolveram-se mais e mais, sem desviar o olhar, e seguraram uma a outra, com força. Nada era dito, e nem de dizeres havia necessidade, naquele mar de obsolências abstratas que chamavam vida -isso antes daquele momento, mais tarde seu significado viria a mudar- a não ser, aquele momento. A não ser aquelas mãos.

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