terça-feira, 3 de abril de 2012

O Cansaço

Um belo dia, cansou-se de tudo o que era vivo. E do que não era vivo também. Cansou da vida que levava, do cara com quem dividia a cama, do emprego e da inflação, cansou de sentir o estômago quase explodindo toda vez que lhe atacava uma crise de gastrite nervosa, de ter que ficar sempre aguentando as mesmas ladainhas no salão de beleza, de gente oportunista e mal intencionada, de gente falsa e arrogante, de gente insolente e vazia, dentre outros tipos de gente que deixam a gente com os nervos a flor da pele. Simplesmente cansou, e sabia que aquilo era loucura; "como assim, cansar, mulher? Você agora decide o que vai acontecer a todo momento, como se eu fosse um brinquedinho seu?" Havia cansado desse tipo de conversa havia muito tempo. Foi lembrando-se daqueles velhos questionamentos da fase adolescente, que, pelo resto do mundo é visto como rebeldia, tudo aquilo parecia querer lhe dizer algo. Como pesadelos constantes que a gente tem e não faz a mínima ideia do significado. A comida perdia o tempero, do sexo sumia o prazer, das amigas já não tinha as conversas que outrora foram, em momentos decisivos, grandes saídas e soluções. Contudo, não entendia como havia se acostumado tão rápido; tornara-se uma pessoa acomodada em sua poltrona de gente rica, após tantos anos de estudo dedicados à algo que agora nem sabia mesmo se gostava de fazer. Pensou, algumas vezes, em suicídio, mas aquilo parecia tão óbvio que desistiu. Foi também algumas vezes à igreja, para ver se não era coisa de satan. Encontrou gente demais por lá e desistiu também. Começou a ficar preocupada, poderia ser algum tipo de sociofobia na meia idade, distúrbios cerebrais, transtorno obsessivo-compulsivo ou esquizofrenia. Procurou um psicólogo, um psicanalista, um psiquiatra, uma mãe de santo, uma cigana, um pajé e uma benzedeira. Achou todos uns babacas. Sentia um desejo maior que a própria alma de sair pelo mundo bradando como ele é óbvio e despejando aos quatro ventos a sua decepção com as pessoas que nele habitam, juntamente com as atitudes delas, sempre iguais, mesquinhas, pequenas. Aquilo não era normal para uma mulher que sempre fora tão sensata e equilibrada em suas ações. Ou será que sim? Começaram a surgir teorias sobre essa implicância. Nada muito concreto, mas talvez, assim, analisando com mais sensibilidade, o problema não fosse com ela. Talvez, só talvez, as pessoas do mundo é que fossem o caos. E eram. Parou então por algum tempo, simplesmente para observar o comportamento do ser humano, e descobriu coisas tão horríveis que não foi capaz de descrever. Mamãe nunca lhe ensinara aquilo. Talvez nem ela soubesse. Talvez ela, velhinha e tão boa, tão gentil e doce, nem suportaria viver nesse mundo. E talvez tenha ido embora justamente por sentir que não suportaria a corrupção do homem e sua degeneração. Mamãe era muito sábia, sim. Mas Deus teve piedade de sua pobre alma sofredora, assim como teria de todos os poucos bons que habitam este lugar tão miserável que é o nosso. Era tudo uma questão... De tempo, talvez?

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