domingo, 29 de janeiro de 2012

Palavras repetidas, física e John Paul Jones

Eu normalmente diria "era uma vez" mesmo sem nunca ter parado pra pensar o significiado dessa expressão. Eu as vezes me pego pensando nessas coisas que a gente diz sem saber o que significa (Me sinto um daqueles gringos que repetem as besteiras que o pessoal fala pra eles em português achando que é bonito). Percebi isso há algum tempo, mas só lembrei de escrever agora. Ia começar a história com o era uma vez de novo, mas aí... Lembrei (Eu não acharia legal um russo me falando besteiras e eu repetindo, pensando que era coisa legal de ser dita). A menos que bem, ele não fosse assim, um russo qualquer, porque aí a coisa muda de figura e tal... Ando meio assim ultimamente: se ele for bonito, né? Mas não do jeito que vocês estão pensando, nada demais, só bobagens mesmo. Não se deixem enganar por um rostinho bonito, um porte atlético, um 1,80m, um olhar sedutor, um perfume maravilhoso, um sorriso cheio de charme e carisma, e... O que eu dizia mesmo? Ah, sim, o era uma vez. Eu não sei porque a gente diz era uma vez. Por que a gente diz era uma vez? Já repararam que se você fica repetindo a mesma palavra em voz alta durante algum tempo, ela começa a soar estranho? Por exemplo, a palavra colega. Repitam a palavra colega umas vinte vezes e vejam como ela fica estranha. Acontece com todas as palavras, acreditem. Façam isso com o velho "era uma vez". Daí vocês vão entender. É chato ficar fazendo isso toda hora. As coisas andam muito chatas, tenho percebido isso também. Aquele ânimo, parece que foi dar uma volta. Aquela alegria toda, anda meio em falta. Disposição, faz tempo que não encontro. A galera diz que ando viciada em internet. Tanta gente morrendo na cracolândia, sofrendo pra cacete, tendo uma vida dura e eu aqui, viciada em internet. Puta ser humano de merda que eu sou, hein? Mas não tem nada não. Eu sou mais uma no bando. Não se enganem, vocês nem são muito melhores. Na verdade, existem pouquíssimos seres humanos que não são merdas como a gente. Minha mãe é um deles, claro. Te amo, mãe. E não, eu não sou rebelde, pode acreditar. Eu sou uma santa. Tão bobinha. Um dia você vai ver. A vida anda meio complicada. A tendência, todo mundo sabe, é só complicar mais. That's the way. Enquanto tem oxigênio, comida, água e essas bobeiras, a gente vai levando. Foda mesmo é quando começam as aulas. Uma morte todo dia, obviamente na hora de levantar; digo levantar tanto da cama quanto do assento reservado para idosos. Outras mortes nas aulas de física, claro, porque aquilo pra mim é hebraico-mandarin-rock progressivo. Eu juro pra todos vocês que estão lendo isso, que está acima da minha capacidade mental entender física. É tipo um bloqueio, desde a hora de copiar o exercício até a hora que bate o sinal, claro. Uma nova morte para mim após o almoço. Maldito técnico que eu já odeio antes de ter começado. Maldita escola, maldita falta de talento pra tocar baixo. Ah, se eu soubesse tocar baixo, ah... Baixo é um instrumento cheio de estilo, cheio de marra, é lindo. Não existe um cara mais estiloso dentro da banda do que o baixista. O coitado nunca é lembrado, é verdade, mas ele tem estilo. Fica ali, batendo pézinho, discreto, com aquela expressão que ninguém sabe compreender. Exceto Sid Vicious, baixistas costumam ser discretos. Vide John Paul Jones, que é maravilhoso e consagrou-se ali, bem no cantinho do palco do Led Zeppelin, sem fazer nada, de cabecinha baixa, tímido, enquanto seus companheiros atiravam TVs pelas janelas de hoteis, eram considerados símbolo sexual e causavam polêmica com peixes e groupies, mistérios e supostas maldições e muita, mas muita rebeldia na frente das câmeras. Jones largou a escola aos 17 anos pra virar músico de estúdio. Eu com 17 anos provavelmente estarei chorando por causa da pontuação do ENEM ou por medo de não passar na USP. Esta é uma prova, meus caros, de que cada um nasce pra ser alguma coisa, e nada muda esse curso. Não sei, sinceramente, se eu nasci pra ser advogada, baixista ou o raio que o parta. Mas dia 6 já tenho aula e a matrícula do técnico foi muito mais barata que um amplificador, fazer o quê? Era uma vez um texto que poderia ser bom se eu tivesse talento, era uma vez uma jovem que quis ser colunista social, era uma vez uma aula de português sobre coesão textual na qual eu dormi, DESCULPA CARMEM, TE AMO, era uma vez, era uma vez, era uma vez, era, uma, vez...

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