sábado, 23 de novembro de 2013

Temas

Há uma rachadura no teto
Que é o mapa de nossa ruína
Há sobre os mortos concreto
Como se não bastasse a chacina

Há uma camisa amassada no chão
Porque talvez o amor ainda exista
E há também o velho amar em vão
Pois não há amor que à vida resista

Há setenta e duas gotas de chuva
Que sobre nós caíram durante a noite
Há ainda uma estrada sem curvas
Dizem que segui-la é um enorme açoite.

Há cheiros impregnados na pele
Suas essências em longas memórias
Cheios do sentir que a alma expele
Cheiros fortes do suor de glórias

Há em toda desgraça comédia
E nem em toda comédia há graça

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Elixir Natural

Sem traço,
Sem nome,
Sem fome,
Sem laço.

Ao abraço 
Consome
E some
No espaço.

Simples, livre e solto.
Desancorado
Leve o amor.

Em vida envolto
Desapegado
De toda dor.

sábado, 9 de novembro de 2013

Algo De Fútil

Naquela insolente esteira rolante 
Da miscigenadíssima linha amarela
Sou um boi pronto para seu abate
Ou leitão que já gordíssimo se esgoela.

Nesta velocidade inconstante
Com que desconheço leis da física
Rumamos todos ao mesmo abismo
Da ignorância mais seca e tísica.

Muito melhor é estar ao volante
E controlar a doce e grande ilusão 
De ser subordinado de uma ditadura
Para chegar à almejada direção.

Sinto-me exatamente como um boi, 
Exatamente como o boi que como
E que agora não sente mais nada:

Abate, 
Abismo, 
Ditadura...